... E o discípulo
aproximou-se do filósofo, pedindo-lhe:
“Mestre,
ensina-me a morrer!...”
O sábio,
contemplando a própria imagem refletida naqueles olhos juvenis, sequiosos por
aprender, disse-lhe:
“Meu filho,
vive de acordo com os ditames da própria consciência; busca o amor antes que o
saber; ampara o fraco; reergue os que tombaram nos abismos da ilusão;
transforma a oração em trabalho, para que o fruto de tua fé seja agradável ao
Senhor da Vida; respeita no corpo uma carteira de lições, onde estás
transitoriamente matriculado para aprender e reaprender o caminho...; nunca,
porém, dês ao corpo alimento superior ao que deves primeiro à alma; lembra-te
de que não és o único a merecer a compaixão dos Céus; segue os que caminham
adiante de teus passos e cuida em não apagares os rastros que servirão de guia
aos que se movimentam na retaguarda...”
“Verás em
todos os homens irmãos; interpretarás os inimigos por pessoas que enxergam a
vida por um prisma diferente do teu; negarás combustível ao ódio, entendendo
que só o amor é capaz de proporcionar-te momentos de felicidade; não terás para
ti mais do que o suficiente para sobreviver, até que o ocaso da vida física te
imponha o ponto final na trajetória terrestre; e, sobretudo, serás fiel!...”
O discípulo,
como que despertando da dissertação que o envolvera de todo, redarguiu:
“Mestre, eu
te perguntei como morrer e não como viver!”
O mestre,
então, alisando-lhe os cabelos, que a brisa noturna dos vales despenteava, como
querendo abrandar o fogo que ardia naquele cérebro que despertava para os
assuntos transcendentes da vida, concluiu:
“Meu filho,
é vivendo no bem que se aprende a morrer bem... A vida é a nossa escola comum,
ensinando-nos a valorizar a bênção do tempo, no concerto da eternidade. Saber
viver para descobrir na morte a verdadeira vida é imperativo a que ninguém se
esquivará. Muitos vivem como se estivessem mortos; raros os que ressurgem de si
mesmos... É preciso morrer para o ontem, abrir os olhos para o hoje que nos
convida a contemplar o futuro no horizonte do destino!... A morte que se tem é
sempre o resultado da vida que se levou...”
O discípulo,
compreendendo a lição, calou-se, comovido, e, despedindo-se do sábio, que
contemplava o firmamento recamado de astros, seguiu a jornada, de coração feliz.
Fonte: https://hemeroteca-pdf.bn.gov.br/847992/per847992_1980_02474.pdf
"Senhor, que na diversidade de opiniões tua verdade faça nascer a concórdia." (Santo Agostinho)
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Imagem da reflejosdeluz.net
terça-feira, 10 de junho de 2025
“Mestre, ensina-me a morrer!...”
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