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terça-feira, 10 de junho de 2025

“Mestre, ensina-me a morrer!...”


 

... E o discípulo aproximou-se do filósofo, pedindo-lhe:
“Mestre, ensina-me a morrer!...”
O sábio, contemplando a própria imagem refletida naqueles olhos juvenis, sequiosos por aprender, disse-lhe:
“Meu filho, vive de acordo com os ditames da própria consciência; busca o amor antes que o saber; ampara o fraco; reergue os que tombaram nos abismos da ilusão; transforma a oração em trabalho, para que o fruto de tua fé seja agradável ao Senhor da Vida; respeita no corpo uma carteira de lições, onde estás transitoriamente matriculado para aprender e reaprender o caminho...; nunca, porém, dês ao corpo alimento superior ao que deves primeiro à alma; lembra-te de que não és o único a merecer a compaixão dos Céus; segue os que caminham adiante de teus passos e cuida em não apagares os rastros que servirão de guia aos que se movimentam na retaguarda...”
“Verás em todos os homens irmãos; interpretarás os inimigos por pessoas que enxergam a vida por um prisma diferente do teu; negarás combustível ao ódio, entendendo que só o amor é capaz de proporcionar-te momentos de felicidade; não terás para ti mais do que o suficiente para sobreviver, até que o ocaso da vida física te imponha o ponto final na trajetória terrestre; e, sobretudo, serás fiel!...”
O discípulo, como que despertando da dissertação que o envolvera de todo, redarguiu:
“Mestre, eu te perguntei como morrer e não como viver!”
O mestre, então, alisando-lhe os cabelos, que a brisa noturna dos vales despenteava, como querendo abrandar o fogo que ardia naquele cérebro que despertava para os assuntos transcendentes da vida, concluiu:
“Meu filho, é vivendo no bem que se aprende a morrer bem... A vida é a nossa escola comum, ensinando-nos a valorizar a bênção do tempo, no concerto da eternidade. Saber viver para descobrir na morte a verdadeira vida é imperativo a que ninguém se esquivará. Muitos vivem como se estivessem mortos; raros os que ressurgem de si mesmos... É preciso morrer para o ontem, abrir os olhos para o hoje que nos convida a contemplar o futuro no horizonte do destino!... A morte que se tem é sempre o resultado da vida que se levou...”
O discípulo, compreendendo a lição, calou-se, comovido, e, despedindo-se do sábio, que contemplava o firmamento recamado de astros, seguiu a jornada, de coração feliz.
 
Irmão José / Carlos A. Baccelli, 12-03-1980. Uberaba-MG
Fonte: https://hemeroteca-pdf.bn.gov.br/847992/per847992_1980_02474.pdf

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