Prof.
Felipe Aquino
A
obra-prima de Deus, por excelência, é a pessoa humana. A única “criada à imagem
e semelhança de Deus” (Gn 1,26). Esta revelação bíblica, meditada devidamente,
deveria levar-nos ao êxtase. É nos atributos da alma imortal, dada ao homem por
Deus no instante da sua concepção, que se encontram os aspectos dessa “imagem e
semelhança” com o Criador. Aí estão, perenes, a inteligência, a liberdade,
vontade e consciência; atributos esses que só o homem possui, exatamente por
ser só ele “imagem e semelhança” de Deus.
Tal
“semelhança” com a natureza divina tornou possível a maior novidade debaixo do
sol: a Encarnação de Deus em forma humana. “E o Verbo se fez carne e habitou
entre nós” (Jo 1,14).
Jesus
pôde assumir a natureza humana, sem abdicar a divina, porque o homem fora
criado à Sua semelhança. E assim, Ele pôde assumir a nossa natureza e
restaurá-la dos estragos do pecado original. A obra-prima de Deus estava salva,
ao preço do sangue e da vida do seu próprio Criador.
Tal é o
amor de Deus ao homem que, além de tudo isso, ainda quis que a pessoa humana
fosse o Seu Templo. É o que São Paulo nos revela, quando escreve aos Coríntios:
“Não
sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? “Se
alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus,
que sois vós, é sagrado” (1 Cor 3,16-17).
“Não
sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, então os membros de
Cristo, e os farei membros de uma prostituta?” (1 Cor 6,15).
Dessas
palavras é fácil compreender quão sagrada é a pessoa humana, e também o seu
corpo, por ser “templo” de Deus e “membro” de Cristo (1Cor 12,28).
Confrontando
essa realidade sagrada do homem, com o modo com que hoje ele vive, profanando o
seu corpo, fica-se estarrecido.
Não é
preciso descer a detalhes para que se possa conhecer a que nível de aviltamento
a pessoa humana se impôs. Primeiro ela é aviltada quando os seus sagrados
direitos não são respeitados, e ela se acha massacrada pela exploração gerada
pela ganância; e segundo, pior ainda, quando ela impõe a si mesma tal
degradação. Basta entrar hoje em um cinema, ou em uma banca de revistas,
locadora de filmes, ou ligar a televisão, ou ler os jornais, para se notar com
que frieza e cinismo, revoltantes, se profana a sagrada criatura de Deus, em
cujo corpo a Santíssima Trindade veio habitar no Batismo.
Os mais
sofisticados meios de explorar o sexo comercialmente são usados,
desrespeitando-se a tudo e a todos, sem que se possa oferecer resistência a
este “mar de lama” impulsionado pelos meios de comunicação.
Por mais
que queiramos fugir desta pergunta, ela se nos coloca: ficará Deus inerte
perante tal profanação da Sua obra-prima, a qual, para salvá-la, Ele entregou à
morte bárbara, o seu Unigênito? Creio que não. Creio que Deus não pode assistir
impassível a destruição e profanação da Sua criatura predileta, e do seu
templo. Jesus “expulsou os vendilhões do Templo…” (Mt 21,12).
Sabemos
que “Deus é Amor” (1Jo 4,8) e rico em misericórdia, mas corrige os que ama:
“O Senhor
educa a quem ele ama, e castiga todo filho que o acolhe” (Hb 12,6).
Deus não
é o autor do mal, e não ama castigar ninguém; entretanto, algumas vezes, por
não ter outra saída, Ele “permite” que a dor atinja a sua criatura, para
salvá-la. Por amor. Algumas vezes, como pai, tive que segurar nos braços os
meus filhos, ainda pequenos, para que o farmacêutico lhes aplicasse uma
injeção. E o fiz por amor; para que a doença não os levasse à morte. Deus, como
o melhor dos Pais, não quer que a doença do pecado mate a alma dos seus amados
filhos; por isso, permite que a dor cure o coração do homem, que não quer ouvir
a voz suave do seu amor. É a história do filho pródigo.
Será que
as mazelas de nossos tempos – como no passado – não trazem a marca dos dedos de
Deus? Temos visto catástrofes dolorosas. Será que Deus não tem permitido estas
coisas para que os homens e mulheres acordem? É difícil dizer, absolutamente
não!
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