A
oração é uma recordação de Deus, como um despertar frequente da “memória do
coração”. A oração é fruto da vida, é um filho que fala com seu Pai dos
cansaços, das conquistas e frustrações, alegria e tristezas, êxitos e
fracassos. E, o elemento essencial para a oração é um coração humilde e
contrito.
Quando
os discípulos pediram: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1), Jesus
ensinou-lhes a oração do “Pai Nosso”. Dois Evangelistas fazem essa narração.
Lucas, de forma mais breve, com apenas cinco petições (Lc 11,1ss) e Mateus, de
forma mais longa, com sete petições (cf. Mt 6,9ss). Este último é a que usamos
para a nossa oração.
O
“Pai Nosso” é chamado oração dominical e oração do Senhor, porque não foi feita
por mãos humanas, mas revelada pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. A
primeira parte do “Pai Nosso” é na verdade um pôr-se na presença de Deus nosso
Pai. A segunda são as petições em relação às nossas necessidades.
Rezar:
“Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o Teu nome; venha a nós o Teu
reino, seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu” é pôr-se na
presença de Deus Pai para adorá-Lo, amá-Lo e para bendizê-Lo. Essa primeira
parte é uma louvação, adoração e declaração de amor.
Ao
ensinar os Apóstolos a rezar, Jesus começa com “Pai”. Isso demonstra que
essa palavra já tinha sido elaborada, fazia parte do cotidiano e havia sido
internalizada. Ele verbaliza aquilo que a sua filiação sentia. Chamar Deus de
Pai é uma ousadia filial e Ele quer que sejamos ousados, porque o filho não tem
medidas: ele pede, implora, chora, grita e esperneia, mas não desiste. Somos
autorizados por Jesus a ter essa ousadia, pois não estamos nos relacionando com
um Deus abstrato ou distante. Jesus estabelece uma relação íntima entre nós e o
Pai.
“Santificado
seja O Vosso Nome”, significa: santificada seja a Vossa paternidade.
Santificar o Nome de Deus é antes de mais nada um louvor que reconhece a Deus
como Santo. “Venha a nós o Vosso reino”, porque o reino é o de Nosso
Senhor, somos chamados a antecipar o Reino, de fazê-lo acontecer aqui e agora.
A
quarta e a quinta petições dizem respeito à nossa vida, seja no alimento material
e espiritual ou para pedir a cura do pecado. “O pão nosso de cada dia nos
dai hoje” diz respeito ao alimento, mas em não armazenar, porque o que acumulamos
em nossa dispensa, na nossa avareza, é a fome do nosso irmão. Então, como rezar
o “Pai Nosso” com tanta gente de barriga vazia? Como rezar essa oração quando
há tanto desperdício de alimento e com tanto consumismo? Como pedir o pão de
cada dia e sermos idólatras do dinheiro? Jesus não disse somente “dai-nos o pão
nosso”, Ele incluiu “de cada dia”. Um grande santo disse que devemos pedir o
pão de cada dia para nos lembrar do quanto somos necessitados de Deus. Ele nos
dá o pão de cada dia como outrora no deserto deu o Maná, para mostrar o quanto
é misericordioso.
A
sexta e a sétima petições dizem respeito ao combate espiritual que somos
chamados a travar, cuja vitória é de quem permanece na oração. “Perdoai as
nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Rezar e
perdoar, na verdade, requerem de nós um exame de confiança permanente. Quem eu
ainda não perdoei? Quem ainda me falta perdoar? Nós sabemos que Deus perdoa,
mas só conseguiremos ser perdoados por Ele na medida em que perdoarmos os
nossos irmãos. A partir do momento que perdoamos e temos nossa memória
purificada, o que era motivo de sofrimento transforma-se em motivo de intercessão,
em oração por aquela pessoa.
“Não
nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal” é uma afirmação que a
tentação faz parte de nossa vida, não mandada por Deus, mas permitida por Ele.
Nossos pecados são frutos da nossa fraqueza diante da tentação e essa petição é
um pedido de discernimento, de fortaleza para vencermos as tentações, vigiando
e orando. Pedimos que Deus nos livre do mal do presente, do passado, do futuro
e nos afaste de tudo aquilo que nos faz perder a salvação.
Proponho
que, depois de ler este artigo, a próxima vez que nos dirigirmos a Deus para
fazer esta oração, a façamos calmamente, refletindo sobre o seu significado e
os compromissos que estamos assumindo.
Rezemos: “Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.
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