Já não é
aos homens que me dirijo, é a ti, Deus de todos os seres, se é que é permitido
a criaturas frágeis perdidas na imensidão, e imperceptíveis ao resto do
universo, atreverem-se a pedir-te alguma coisa, a ti que tudo deste, a ti cujas
leis são imutáveis como eternas. Tem piedade dos erros que fazem parte da nossa
natureza: que esses erros não sejam as nossas desgraças.
Não nos
deste um coração para odiarmos nem uma mão para degolarmos; faz com que nos
ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida penosa e passageira; que as
pequenas diferenças entre as roupas que cobrem o nosso corpo débil, entre todas
as nossas línguas insuficientes, entre todos os nossos hábitos ridículos, entre
todas as nossas leis imperfeitas, entre todas as nossas opiniões insensatas,
entre todas as nossas situações tão desproporcionadas aos nossos olhos e tão
iguais aos teus; que todas essas pequenas diferenças que distinguem os átomos
chamados homens não sejam sinais de ódio nem de perseguição...
Que todos
os homens possam lembrar-se de que são irmãos! Que tenham horror à tirania
exercida sobre as almas, assim como detestam a depredação que arrebata pela
força o fruto do trabalho e da indústria tranquila!
Se as
calamidades da guerra são inevitáveis, não nos odiemos, não nos destruamos uns
aos outros no seio da paz, e utilizemos a nossa existência para abençoarmos
igualmente, em mil línguas diferentes, do Sião a Califórnia, a tua bondade que
nos concedeu nesse instante!
“Tratado
da Tolerância” de Voltaire, 1763
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