Analisar como pensam as crianças
é experiência deliciosa, e de ensino profundo.
Duas meninas, uma de cinco, outra
de sete anos, estavam na sua mesinha jantando.
A menorzinha encontrou um grão de
feijão na sopa, e disse para a outra:
- Quando eu tiver uma semente de
feijão, vou plantar no meu canteiro.
A outra acabou de engolir a sua
colherada, passou o guardanapo na boca, e replicou:
- Feijão não tem semente. A
semente é ele mesmo.
A pequenina não entendeu, e
tornou:
- Então, como é que ele pode
nascer, sem semente?
A outra, depois de pensar um
pouco, explicou:
- Eu acho que é mesmo a terra
que, um dia, vira feijão.
- Mas sem ter havido nenhuma
semente, antes?
- É, mesmo sem ter havido. Ela
vai se juntando, juntando, juntando, e fica assim... num grão. - E procurou
pelo prato, para ver se encontrava mais algum.
A menorzinha não se conformou
muito com essa transformação abstrata. Foi tomando a sopa, e pensando. Depois de um pedaço de silêncio,
reatou a conversa:
- Olha, também pode ser assim: um
homem faz uma bolinha pequenina, pequenininha de massa... Depois, pinta por
cima. Fica o primeiro feijão, então. Depois, os outros nascem...
A outra menina perguntou
imediatamente:
- E com que é que ele faz a
massa?
- Pode ser com... batata.
- Mas batata não é feijão! -
concluiu a maior, voltando a tomar sua sopa, pensando um pouco mais no tema
proposto.
As duas continuaram ali, sentadas
na mesinha, sem solução para sua dúvida, e com as cabecinhas quentes, de tanto
pensar, imaginar e questionar.
Cecília Meireles
[Imagem Google]
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