.

.
Imagem da reflejosdeluz.net

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Batata não é feijão

Analisar como pensam as crianças é experiência deliciosa, e de ensino profundo.
Duas meninas, uma de cinco, outra de sete anos, estavam na sua mesinha jantando.
A menorzinha encontrou um grão de feijão na sopa, e disse para a outra:
- Quando eu tiver uma semente de feijão, vou plantar no meu canteiro.
A outra acabou de engolir a sua colherada, passou o guardanapo na boca, e replicou:
- Feijão não tem semente. A semente é ele mesmo.
A pequenina não entendeu, e tornou:
- Então, como é que ele pode nascer, sem semente?
A outra, depois de pensar um pouco, explicou:
- Eu acho que é mesmo a terra que, um dia, vira feijão.
- Mas sem ter havido nenhuma semente, antes?
- É, mesmo sem ter havido. Ela vai se juntando, juntando, juntando, e fica assim... num grão. - E procurou pelo prato, para ver se encontrava mais algum.
A menorzinha não se conformou muito com essa transformação abstrata. Foi tomando a sopa, e pensando. Depois de um pedaço de silêncio, reatou a conversa:
- Olha, também pode ser assim: um homem faz uma bolinha pequenina, pequenininha de massa... Depois, pinta por cima. Fica o primeiro feijão, então. Depois, os outros nascem...
A outra menina perguntou imediatamente:
- E com que é que ele faz a massa?
- Pode ser com... batata.
- Mas batata não é feijão! - concluiu a maior, voltando a tomar sua sopa, pensando um pouco mais no tema proposto.
As duas continuaram ali, sentadas na mesinha, sem solução para sua dúvida, e com as cabecinhas quentes, de tanto pensar, imaginar e questionar.

Cecília Meireles

[Imagem Google]

Nenhum comentário:

Postar um comentário