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domingo, 20 de setembro de 2015

AMIGOS VERDADEIROS


Narra uma crônica que um homem andava por uma estrada, acompanhado de seus fiéis animais: um cavalo e um cão. Pelo caminho, um raio os atingiu e os três foram fulminados. O homem não se deu conta que morrera e continuou andando, com seu cavalo e seu cão.
Longa era a caminhada, morro acima. O sol estava muito forte e a sede passou a castigá-los. Numa curva do caminho, o homem avistou um portão magnífico, que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro. Cumprimentando o guardião da entrada, o homem perguntou que lugar era aquele. Descobriu que ali era o Céu.
Feliz em saber que estava em um local tão agradável, indagou se poderia saciar a sua sede e a dos seus amigos, nas águas cristalinas da fonte que havia bem no centro da praça.
- O senhor pode entrar e beber à vontade. - disse o guarda. Mas aqui não se permite a entrada de animais.
O caminhante ficou muito desapontado. Grande era a sua sede, mas decidiu que não beberia sozinho. Preferiu continuar sua caminhada. Exausto, mais adiante, deparou-se com uma porteira que se abria para uma estrada de terra, ladeada de árvores. À sombra de uma das árvores, um homem estava deitado, cabeça coberta com um chapéu. Parecia dormir.
- Estamos com muita sede, meu cavalo, meu cachorro e eu - disse o caminhante.
Indicando uma fonte, entre algumas pedras, foi-lhe dito que poderia beber à vontade. O caminhante, o cavalo e o cachorro foram até à fonte e mataram a sede. Em seguida, ele retornou para agradecer. E resolveu indagar:
- A propósito, como se chama este lugar?
- Aqui é o Céu - foi a resposta.
- Céu? - exclamou o caminhante, surpreso. Mas já passei pelo Céu. Era um lugar muito bonito com um grande portão de mármore.
- Aquilo não é o Céu, esclareceu o outro. Aquilo é o Inferno.
O caminhante ficou perplexo.
- Mas, vocês deviam tomar uma providência. Com a informação errada, que lá, naquele lugar, é dada, pode ocasionar muita confusão. Muitas pessoas podem ser enganadas.
O homem sorriu e calmo, explicou:
- Na verdade, eles nos fazem um grande favor, porque lá ficam todos aqueles que são capazes de abandonar seus melhores amigos.

Fácil é a conquista e manutenção de amigos, quando a juventude compõe versos e a riqueza sorri. Contudo, é na forja da adversidade e das graves problemáticas, que os verdadeiros amigos se revelam. São esses que permanecem ao nosso lado, mesmo quando o mundo inteiro nos volta as costas. São eles que prosseguem conosco, mesmo que nos vistamos com os andrajos da pobreza e o infortúnio nos abrace. Pensemos nisso.


Fonte: Redação do Momento Espírita, com base em crônica de autoria de Paulo Coelho, publicada no Jornal O sol nascente (RJ), de janeiro de 2009

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