(Alfredo
J. Gonçalves – padre carlista, assessor das Pastorais Sociais)
Fonte: IHU Unisinos
“Pedi e
vos será dado, buscai e encontrareis, batei e vos será aberto” (Mt 7,7).
Três verbos que resumem uma forma de oração ou meditação: pedir, buscar e
bater. Mas também exigem uma relação íntima e dinâmica com o Deus e Pai de
Jesus Cristo. Um persistência diária de encontros e reencontros. Façamos um
percurso de caráter espiritual, invertendo o sentido dos verbos.
Bater! Não importa o quanto nos sentimos distantes da Casa
de Deus, não importa a sensação de vergonha pela longa ausência, não
importa o medo oculto de uma possível punição... Não importam nossas quedas e
fraquezas, nossas debilidades e pequenas formas de infidelidade... Não importam
nem mesmo nossos erros, desvios e pecados... O Pai nunca fecha a porta
ao filho que bate, nunca vira as costas a quem o invoca. Se o pode fazer às
vezes o pai terreno, jamais o fará o Senhor do céu e da terra. Prova disso
encontramos na surpreendente parábola do filho pródigo. Também chamada
parábola dos dois filhos e, melhor ainda, parábola do Pai misericordioso (Lc
15, 11-32). Antes mesmo que o filho se aproxime e, contrito, tente
esclarecer as coisas, o pai já tomou a iniciativa de correr ao seu encontro.
Abraça-o, faz-lhe uma festa porque “estava morto e voltou à vida”. Perdão e
misericórdia significam uma nova oportunidade para retomar o caminho. Vale o
mesmo, porém, para os que batem à nossa porta: sabemos acolhê-los e hospedá-los
no círculo de nossa amizade, de nossa família ou comunidade?
Buscar! Do berço ao túmulo, o ser humano se caracteriza
pela busca irrequieta. Jamais se cansa de procurar por algo ou alguém. Mas, o
que buscamos? Que espécie de coisas acumulamos em nossas simbólicas gavetas?
Dinheiro, riqueza, poder, honra, glória, fama, influência, títulos,
conhecimento... “Vaidade das vaidades”, diz Coélet, “vaidade das
vaidades, tudo é vaidade” (Ecl 1,1)! Os bens materiais que, com suor e
fadiga, procuramos conquistar, ganhar ou tomar são os mesmos que abandonamos ao
partir. As riquezas deixam órfãos e deserdados os que partem. Aquilo que
preenche o vazio de nossa existência são as relações que cultivamos. Aliás,
passam a ser o nosso verdadeiro e único tesouro. Relações com Deus, relações
com os demais, relações com a beleza da criação. Intimidade e abertura,
silêncio e escuta, diálogo e transparência; prodigalidade no dar e receber.
Buscar a Deus, passando pelo próximo; buscar o próximo, passando pela Casa de
Deus. Eis o que realiza e torna feliz a alma humana. De outro lado, porém, que
fazemos com quem bate à porta de nosso coração e de nossa casa?
Pedir! Volta a vergonha, volta o receio de uma recusa,
volta o sentimento de que somos indignos de sua atenção. Como se o amor e a
bondade de Deus se orientasse pelos nossos méritos! Não, o oceano de sua
misericórdia encontra-se muito acima do que fazemos ou deixamos de fazer, do
mal ou bem que praticamos. Então, por que fazer o bem? Porque só ele nos torna
felizes, devolve a paz ao coração aflito e atormentado. Só ele está em sintonia
com o projeto de Deus, impresso em nossas fibras mais íntimas. O Pai ama não porque
fazemos isso ou aquilo, mas porque somos filhos e filhas. Seu amor é
incondicional, vem antes de que possamos julgar se o merecemos ou não. “Deus
demonstrou seu amor para conosco porque Cristo morreu por nós quando éramos
ainda pecadores” (Rm 5, 8). Pedir requer humildade, tal como bater
e buscar. Humildade para reconhecer a própria pequenez, para revelar a
própria nudez. Mas a nudez, quando revestida pelo olhar de quem ama, em lugar
de nos deixar expostos à curiosidade alheia, expressa em toda a sua plenitude a
dignidade da pessoa humana. Que dizemos a quem nos pede algo?
Por isso,
convém ter presente que ao ato de “pedir, buscar e bater” em relação a
Deus, corresponde uma atitude semelhante em relação às pessoas com quem vivemos
e nos relacionamos. Correspondência infinitamente inferior, sem dúvida, mas que
indica o horizonte a ser perseguido. Na base dos três verbos, o ser humano se
reconhece como criatura diante da grandeza infinita do Criador. Reconhece, além
disso, o dom da vida como o maior tesouro a ser cultivado!
Fonte:
www.ihu.unisinos.br
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