Tenho medo, Senhor, de dizer SIM.
Até onde me conduzirás?
Tenho medo de puxar a palha mais comprida,
Tenho medo de assinar ao pé de folha em
branco,
Tenho medo do sim que reclama outros sim.
Entretanto, eu não me sinto em paz.
Tu me persegues, Senhor,
Tu me assedias por todos os lados.
Procuro o barulho porque receio ouvir-te,
Mas infiltra-Te num momento de silêncio.
Fujo da estrada, pois vislumbrei-Te ao longe,
Mas na saída do atalho já me esperas quando
chego.
Onde esconder-me? Por toda a parte Te
encontro:
Então, não é possível escapar de Ti?
…Mas, tenho medo, Senhor de dizer sim.
Medo de dar-Te a mão: na Tua mão a prendes.
Medo de encontrar Teus olhos: Tu és um
sedutor.
Medo de Tua exigência: és um Deus ciumento.
Estou acuado, mas escondo-me.
Estou cativo, mas debato-me,
e combato, mesmo sabendo que já estou
vencido.
Pois és mais forte, Senhor,
Possuis o Mundo e m’o roubas.
Se estendo a mão para pegar pessoas e coisas,
Desvanecem-se a meus olhos.
Não é nada engraçado, Senhor: nada posso
apanhar para mim,
A flor que colho, murcha entre meus dedos.
O riso que esboço em meus lábios se enrijece.
A valsa que danço, me deixa ofegante,
inquieto,
Tudo me parece vazio.
Tudo oco.
Fizeste um deserto em torno de mim.
E tenho fome,
E tenho sede,
O mundo inteiro não bastaria para me
alimentar.
E, no entanto, Senhor, eu Te amava: que Te
fiz eu?
Por Ti eu trabalhava, por Ti eu me dava.
Ó grande Deus terrível, que hás de querer
ainda?
*
Meu filho, quero mais para ti e para o mundo.
Antigamente, o que desdobravas era a tua ação
– mas nada tenho a fazer com ela.
Convidavas-me a aprová-las, a sustentá-la,
Querias interessar-me em teu trabalho,
Mas, vê, Meu filho, trocavas os papéis…
Acompanhei-te com os olhos, vi tua boa
vontade,
Quero mais agora para ti.
Não é mais tua a ação que vais fazer,
Mas a vontade de teu Pai do Céu.
Dize sim, meu filho.
Preciso do teu sim,
Como precisei do sim de Maria
Para vir à terra,
Pois sou Eu quem deve estar em teu trabalho,
Sou Eu quem deve estar em tua família,
Sou Eu quem deve estar em teu bairro,
E não tu.
Pois é meu olhar que penetra e não o teu,
É minha palavra que faz efeito e não a tua,
É minha vida que transforma e não a tua.
Dá-me TUDO, abandona TUDO.
Preciso de teu sim para esposar-te e descer à
terra.
Preciso de teu sim para continuar a salvação
do Mundo.
*
Ó Senhor, tenho medo de tua exigência,
Mas quem Te pode resistir?
Para que venha o Teu reino e não o meu,
Para que Tua vontade seja feita e não a
minha,
Ajuda-me a dizer SIM.
(Retirado do livro: “Poemas para rezar”.
Michel Quoist. Via Felipe Aquino)
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