Nossos caminhos
são agora um só caminho,
nossas almas, uma
só alma.
Cantarão para nós
os mesmos pássaros,
e os mesmos anjos
desdobrarão sobre nós
as invisíveis
asas.
Temos agora por
espelho os nossos olhos;
o teu riso dirá a
minha alegria,
e o teu pranto, a
minha tristeza.
Se eu fechar os
olhos, tu estarás presente;
se eu adormecer,
serás o meu sonho;
e serás, ao
despertar, o sol que desponta.
Nossos mapas serão
iguais,
e traçaremos
juntos os mesmos roteiros
que conduzam às
fontes escondidas
e aos tesouros
ocultos.
Na mesma página do
Evangelho encontraremos o Cristo,
partiremos na ceia
o mesmo pão;
meus amigos serão
os teus amigos,
perdoaremos com
iguais palavras
aqueles que nos
invejam.
Será nossa leitura
à luz da mesma lâmpada,
aqueceremos as
mãos ao mesmo fogo
e veremos em
silêncio desabrochar no jardim
a primeira rosa da
Primavera.
Iremos depois nos
descobrindo nos filhos que crescem,
e não mais
saberemos distinguir em cada um
os meus traços e
os teus,
o meu e o teu
gesto,
e então nos
tornaremos parecidos.
E nem o mundo nem
a guerra nem a morte,
nada mais poderá
separar-nos,
pois seremos mais
que nunca,
em cada filho,
uma só carne
e um só coração.
Que o homem não
separe o que Deus uniu.
Que o tempo não
destrua a aliança que nos prende,
nem os amores, o
amor.
Que eu não tenha
outro repouso que o teu peito,
outro amparo que a
tua mão,
outro alimento que
o teu sorriso.
E, quando eu
fechar os olhos para a grande Noite,
sejam tuas as mãos
que hão de fechá-los.
E, quando os abrir
para a visão de Deus,
possa
contemplar-te como o caminho
que me levou, dia
após dia,
à Fonte de todo
amor.
Nossos caminhos
são agora um só caminho,
nossas almas, uma
só alma.
Já não preciso
estender a mão para alcançar-te,
já não precisas
falar para que eu te escute…
(Dom
Marcos Barbosa, OSB. Via Dom Henrique Soares)
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