O sentido maravilhoso do convite de
Jesus a nos tornarmos adultos na compreensão, mas puros como os pequeninos
A predileção de Nosso Senhor pelas crianças se exprime constantemente no
Evangelho. Quando os discípulos perguntaram ao Mestre (Mt 18, 1): “Quem é o
maior no reino dos céus?”, Jesus,
fazendo vir um menino, pô-lo no meio deles e disse:
“Na verdade vos digo que se vos não
converterdes e vos não tornardes como meninos, não entrareis no reino dos céus.
Todo aquele, pois, que se fizer pequeno, como este menino, esse será o maior no
reino dos céus. E o que receber em meu nome um menino como este, é a mim que
recebe. Porém, o que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim,
melhor lhe fora que se pendurasse ao pescoço a mó que um asno faz girar, e que
o lançassem no fundo do mar”.
Nosso Senhor quer nos dizer que, aos
olhos de Deus, independente do que formos, independente de nossa ciência, de
nossa autoridade, devemos sempre ser
como crianças pequeninas, pela consciência de nossa fraqueza, de nossa
fragilidade, de nossa dependência, de nossa humildade e simplicidade. Enquanto
o homem torna-se, com a idade, cada vez mais independente de seu pai e de sua
mãe, o cristão, para alcançar a união divina, prelúdio da vida eterna, deve
tomar consciência cada vez maior de sua dependência ao Pai do céu; deve ser, cada vez mais, o infante de Deus; tornar-se
mais humilde, simples, filial e abandonado; tem de chegar a não pensar, não
querer, não agir, senão por seu Pai e para Ele. É isto que se vê na vida dos
santos, cuja fidelidade ao Espírito Santo faz entrar nas vias ditas passivas:
eles são, mais e mais, como crianças aos olhos de Deus; confiam em Deus de modo
absoluto e já não usam de sua atividade própria senão para conseguir tornar-se
mais dependentes d’Ele. Compreendem bem que nossa salvação é mais certa se
posta nas suas mãos que nas nossas.
Os santos também encontram meios de
realizar as duas partes da palavra de S. Paulo (1 Cor 14,20):
“Irmãos, não sejais meninos na
compreensão mas sede pequeninos na malícia”.
Foi assim que o confessor de Santo
Tomás de Aquino disse que a confissão que este grande teólogo fizera antes de
morrer mostrava sua alma inocente como a de uma criança de cinco anos. A oração
de Santo Tomás devia ser também das mais simples, das mais filiais e das mais
humildes.
Os grandes santos gostam de lembrar que
Jesus dizia (Mc 10,14):
“Deixai vir a mim os pequeninos, e não
os embaraceis, porque destes tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Todo
o que não receber o reino de Deus como um menino, não entrará nele. E
abraçando-os, e impondo-lhes as mãos, os abençoava”.
Enfim, pensando em todos aqueles que
parecem com os pequeninos pela maneira humilde e simples de receber a palavra
divina, Jesus dizia (Mt 11,25):
“Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e
da terra, porque escondestes estas coisas dos sábios e aos prudentes, e as
revelastes aos pequeninos. Assim é, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”.
É este mesmo ensinamento que hoje nos é
dado pelo trabalho da graça nas almas das crianças de que acabamos de falar; é
com alegria que acompanhamos nelas o desenvolvimento deste germe da vida eterna
que o batismo lhes deu e que, por vezes, tão rapidamente chega à derradeira
eclosão.
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Excerto de texto do Pe. Réginald Garrigou-Lagrange,
O.P., publicado originalmente em La Vie Spirituelle, nº 137, Fevereiro de 1931.
Fonte:
https://pt.aleteia.org
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