As
cores desfilavam formosas, exuberantes, cada qual orgulhosa de seus brilhos:
o
verde identificando-se com as florestas,
o
azul com a beleza celestial,
o
vermelho com o fogo poderoso
e,
assim, todas as demais realçavam suas virtudes.
Enquanto
isso, o cinza, humilhado, sem brilho, retraía-se num canto obscuro.
Um
dia, um pobre e velho peregrino entrou na região das cores e,
extenuado,
pediu ao cinza que o protegesse com sua sombra.
Inicialmente,
o cinza espantou-se com a solicitação, mas logo aquiesceu,
cobrindo
o velhinho com um confortável crepúsculo. E ali permaneceu, em
vigília,
resguardando seu sono reparador.
As
demais cores riam da cena, julgando-a ridícula.
Mas,
o cinza experimentava uma indizível alegria por se sentir valorizado no servir.
Ao
acordar, o peregrino agradeceu com um beijo e foi-se pela estrada.
Para
espanto geral das cores, o cinza foi adquirindo uma extraordinária
luminosidade
e prateou-se.
Deus
havia adormecido sob sua sombra.
Há
em todo Ser Humano uma inefável beleza interior à espera de quem a
pressinta,
acredite e a desperte.
(Vilmar
dos Santos)
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