O trigo da poesia
(Para frei Joaquim Carreira das Neves)
Para receber a semente
Nunca, mas nunca se sabe
Se ela própria o consente.
Com toda a sua paixão
Pois sabe que ela encerra
A fé do seu ganha-pão.
Todo o grão que nela cai
E é o suor que determina
Se é bom o pão que sai.
Algo que o trigo não quer
É o joio que o enfraquece
E o impede de crescer.
Da sua seara mondar
Corta o joio à condição
Pra todo o trigo vingar.
Nas espigas a aloirar
E o ceifeiro com firmeza
Logo vem para o ceifar.
No amanho de cada verso
Lança o trigo na hora certa
Confiando no seu regresso.
P’la maré das sensações,
Dá-lhe força e inspiração
No ritmar das emoções.
Mascarado de fantasia
Mas co’a musa desenvolta
Cresce o trigo da poesia.
E os poemas são meu pão
Come deles, meu amigo,
Aqui os tens à tua mão.
Tem fome e não sabe de quê,
A poesia é o pão completo
Mas não o sabe, nem a vê.
São gêmeos de vocação
Iluminam, dão luz certa
E ao mundo libertação!
In ODISSEIA DA ALMA
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