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sexta-feira, 29 de março de 2013

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO


Homilia na Sexta-Feira Santa 2013
Escrito por Pe. Amaro Gonçalo. Publicado em Homilia da Semana

ANUNCIAMOS, SENHOR, A VOSSA MORTE!

Anunciamos, Senhor, a vossa morte”, assim respondemos e correspondemos, num primeiro momento, à aclamação eucarística, do «Mistério da fé»! E, agora, diante do mesmo e único sacrifício de Cristo, na Cruz, somos também desafiados a abraçar, na fé, o grande mistério da Sua entrega ao Pai, por todos nós!

1. Nesta Hora, põem-se-nos, de fato, algumas perguntas incontornáveis, que tocam os fundamentos da nossa fé: “Que é feito da condição de Jesus, como Filho de Deus? Que é feito do fato de Ele ter posto toda a sua confiança no Pai? Deus pode abandonar o seu Eleito, até este «ponto de não retorno»? Acabou realmente tudo? Pode acabar assim”? Professar, na fé, que Jesus «foi crucificado, morto e sepultado» significa aceitar o desafio escondido em tais e tantas perguntas, sobre o sofrimento do inocente e a morte do justo. O «silêncio de Deus», na cruz, abre, pois, muitas brechas de inquietação, de perturbação e de provação, na nossa fé… Ora, é, precisamente, na grande provação que se vê o verdadeiro crente; é na provação que a fé mostra a sua genuinidade, e revela toda a sua solidez inabalável. A fé verdadeira, aquela que se radica na força de Deus, vê-se, mais dia, menos dia, afrontada e confrontada com o mistério da cruz! Para alguns, a Cruz será «loucura» e «escândalo», pedra de tropeço, no caminho para Deus; porém, a mesma Cruz pode revelar-se como «poder e sabedoria de Deus» (Cf. 1 Cor 1, 17-25), para quantos a acolhem, na fé. Não estranhamos, portanto, que no caminho da Cruz, se escute o grito mundano, dos que dizem: “se és o filho de Deus, desce da cruz; salva-te a ti mesmo e a nós também”(Lc.23,37-38)! Mas ao mesmo tempo, e por fim, ao ver Jesus morrer daquela maneira, há um centurião que exclama, numa belíssima profissão de fé: “Verdadeiramente este Homem era o Filho de Deus” (Mc.15,39).

2. Neste Ano da fé, talvez valha a pena confrontar estas vozes, que se disputam dentro de nós, e à nossa volta, e que nos dividem. Nada como o aparente silêncio de Deus, perante o sofrimento e o mal, para pôr radicalmente à prova e em crise salutar a nossa fé. Jesus, de fato, perante a vastidão do mal, e do sofrimento que o esmaga, a ele e a nós, não faz nada de extraordinário! Aceita-o e suporta-o, sem protesto. Por isso, a Cruz escandalizava e provocava, os que só queriam crer, se Jesus se prestasse a uma qualquer demonstração de força, se procedesse a uma exibição hábil, para assim os vencer e convencer, ou, para, desse modo, os mover e demover! Era isto mesmo, que pretendiam os judeus: acreditar em Jesus, não por um ato livre de confiança, mas pela força dos fatos extraordinários.

3. Mas Jesus sabe bem que milagres assim não libertam as pessoas; antes se apoderam delas. E Deus, de fato, não se apodera de ninguém. Deus propõe-se-nos. Deus quer ser amado, numa resposta livre, que nunca podemos dar, sem confiar, sem nos entregarmos a Ele, no salto escuro da fé. «A fé é precisamente a resposta ao dom do amor, com que Deus vem ao nosso encontro» (Bento XVI, DCE 1). «Para ser humana, a resposta da fé, dada pelo homem a Deus, deve ser voluntária» (CIC, n. 160) e não vencida, ou convencida, pela força de qualquer gesto divino mirabolante! Deus não nos invade; bate sempre à porta da nossa fé. Deus não se impõe, pela força de qualquer evidência. Deus não nos conquista, pela exibição de qualquer passe de magia, como se não tivéssemos hipóteses de não acreditar. Se assim fosse, nem sequer seríamos livres, para acreditar! Se assim fosse, nós teríamos simplesmente de nos render a Ele, seríamos vencidos e esmagados pela sua grandeza, sem argumentos, contra tais fatos. Mas não. Deus não se impõe. Deus propõe-se-nos.

4. Em pleno Ano da Fé, também nós gostaríamos, de não ter por que perguntar ao Senhor: «Porque me deixaste cair nesta cama? Por que não fizeste nada, para que não chegasse a esta ruína? Por que não evitaste esta doença ou esta separação? Por que não impediste este crime? Por que não intervéns duramente, contra tanta injustiça neste mundo? Por que não pões tudo em pratos limpos? Por que não calas os ateus, com coisas extraordinárias, que os vençam, e convençam? Por que não fazes nada, perante a tragédia natural e a desgraça deste mundo? Por que Te calas»?! Muitas vezes, também nós, preferíamos assim milagres e visões, à Cruz do Senhor; também nós desejaríamos sinais que não deixassem dúvidas, que nos livrassem da lida e da fadiga, que é isto de acreditar livremente.

5. Mas Deus, pelo contrário, vence com a força da sua impotência, conquista-nos com o poder inerme do Seu amor, revela-se numa cruz. Aliás, agora pergunto eu: podia Deus justificar-se de outro modo, perante a história do Homem, tão carregada de sofrimento?! De que nos serviria um Deus que não padecesse nem se compadecesse com o nosso sofrimento? Quem nos poderia então entender? Em quem poderiam esperar os torturados de tantas prisões secretas? Onde poderiam pôr a sua esperança tantas mulheres humilhadas e violentadas sem defesa alguma? A quem se agarrariam os doentes crônicos e os moribundos? Quem poderia oferecer consolo às vítimas de tantas guerras, terrorismos, fomes, desamores, desempregos e misérias? Só no Crucificado, nós podemos encontrar um Deus, que está por dentro do nosso sofrimento, e caminha a nosso lado! Rezemos-lhe, pois, de coração humilde, professando a nossa fé:

“[Senhor], caminhamos sob o peso da Cruz, nas pegadas dos teus passos! Mas Tu ressuscitas na manhã da Santa Páscoa! És para nós o Vivente que não morre! Com os humildes que querem renascer, Senhor, nós Te pedimos: Aumenta, aumenta a nossa fé. Credo, Domine! Aumenta a nossa fé” (4ª estrofe do Hino para o Ano da Fé)!

[Imagem Google]

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